Hamas aceita proposta de cessar-fogo do Egito e Catar

por Joana Raposo Santos - RTP
Hannah McKay - Reuters

O Hamas anunciou esta segunda-feira que aceitou a proposta de cessar-fogo apresentada pelo Egito e pelo Catar, mediadores nas negociações para uma trégua na guerra entre esse grupo radical e Israel. Telavive considerou essa proposta "inaceitável", mas o Gabinete de Guerra assegurou que continuará as negociações. Entretanto, em Rafah, Israel lançou múltiplos bombardeamentos contra "locais terroristas".

Segundo o Hamas, o chefe do grupo, Ismail Haniyeh, já informou o primeiro-ministro do Catar e o chefe dos serviços de inteligência egípcios que aceitou a proposta.

"Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político do Hamas, falou por telefone com o primeiro-ministro do Catar, o xeque Mohammed bin Abdelrahmane Al Thani, e com o ministro egípcio dos Serviços Secretos, Abbas Kamel, e informou-os que o Hamas aprovou a sua proposta de acordo de cessar-fogo", refere um comunicado do grupo.

À agência France Press, um responsável do Hamas declarou que "a bola está agora no campo de Israel, que tem de optar entre aceitar o acordo de cessar-fogo ou bloqueá-lo".

Israel decidiu, porém, que a proposta aprovada pelo Hamas não é aceitável, segundo um funcionário israelita ouvido pela agência Reuters.

De acordo com a mesma fonte, o acordo inclui conclusões a “longo prazo” que Israel não pode apoiar. “Isto parece ser um estratagema destinado a fazer com que Israel pareça ser o lado que recusa um acordo”. Em Telavive, junto à sede das Forças de Defesa de Israel, manifestantes juntaram-se para pedir um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns do Hamas.


O porta-voz das forças militares de Israel disse, no entanto, que todas as propostas relativas a negociações para libertar reféns em Gaza são examinadas com seriedade e que, paralelamente, Telavive continua a operar no território governado pelo Hamas.

Questionado sobre se a aceitação da proposta por parte do Hamas terá impacto na ofensiva na cidade palestiniana de Rafah, o contra-almirante Daniel Hagari afirmou que "todas as propostas" são analisadas de forma séria, mas que "estão a esgotar-se todas as possibilidades de negociação e devolução dos reféns".

"Paralelamente, ainda estamos a operar na Faixa de Gaza e continuaremos a fazê-lo", declarou.

Uma fonte israelita disse à Associated Press que Telavive ainda vai analisar um cessar-fogo na Faixa de Gaza, mas frisa que o plano do Hamas mudou em relação ao quadro anteriormente proposto.

O plano aprovado pelo Hamas "não é o quadro proposto por Israel", segundo a fonte, que não deu mais detalhes e que falou sob anonimato justificando que as autoridades israelitas ainda estão a elaborar uma resposta formal.
Rafah alvo de bombardeamentos
O Gabinete de Guerra israelita, chefiado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, decidiu prosseguir a ofensiva em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que concordou continuar as negociações para uma trégua com o grupo palestiniano Hamas.

"Embora a proposta do Hamas fique muito aquém dos requisitos de Israel, Israel enviará uma delegação para esgotar a possibilidade de chegar a um acordo em condições aceitáveis", afirmou o gabinete de Netanyahu em comunicado.

Nesse sentido, Israel informou que manterá a decisão de realizar uma ofensiva militar contra Rafah "para exercer pressão militar sobre o Hamas", com a finalidade de "avançar na libertação dos reféns" sequestrados pelas milícias palestinianas no dia 7 de outubro, e de alcançar os seus "objetivos na guerra".

Ao fim do dia, as Forças de Defesa israelitas anunciavam que bombardearam mais de 50 alvos do grupo palestiniano na região de Rafah.

Os bombardeamentos foram dirigidos a "locais terroristas" localizados no extremo sul do enclave palestiniano em preparação da entrada das forças terrestres israelitas no leste de Rafah, de acordo com o porta-voz militar do Exército, Daniel Hagari.
Proposta de cessar-fogo inclui três fases
Segundo o Hamas, a proposta inclui várias exigências, nomeadamente um cessar-fogo, a reconstrução de Gaza, o regresso de pessoas deslocadas e uma troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.

Um responsável do Hamas em Gaza, para quem este acordo "satisfaz todas as partes", avançou que a proposta de cessar-fogo possui três fases, cada uma delas com a duração de 42 dias. Na segunda fase, prevê-se a retirada total das forças israelitas de Gaza.

Este responsável disse ainda à Reuters que uma delegação do grupo radical vai em breve visitar o Cairo para discutir o acordo de cessar-fogo e o próximo passo a tomar.

Citadas pela agência de notícias espanhola Efe, fontes das conversações indicaram que na primeira fase seria aplicada uma suspensão das hostilidades por 40 dias com possibilidade de prorrogação, bem como a retirada das forças israelitas para o leste da Faixa de Gaza e para longe das áreas densamente povoadas.

A proposta prevê também o regresso dos deslocados às suas casas, segundo o canal televisivo qatari Al Jazeera e a estação de televisão estatal egípcia Al-Qahera News, muito próxima dos serviços secretos do país norte-africano. Em Rafah, cenas de alegria e tiros para o ar seguiram-se ao anúncio do Hamas, de acordo com relatos de jornalistas internacionais.

A partir do primeiro dia do cessar-fogo, o Hamas libertaria três reféns de três em três dias, ao passo que Israel libertaria "um número correspondente de prisioneiros palestinianos", ainda por acordar.

Por sua vez, o membro da direção política do Hamas Jalil al-Haya disse à Al Jazeera que a segunda fase do acordo inclui "o fim permanente das operações militares" de Israel na Faixa de Gaza.

O responsável do movimento islamita indicou igualmente que na segunda e na terceira fases do acordo se realizariam negociações indiretas com Israel, através da mediação do Egito e do Qatar, sobre "as condições" para as próximas trocas de reféns por prisioneiros palestinianos.

Há vários meses que Egito e Catar têm mediado conversações entre Israel e o Hamas, procurando encontrar uma solução para a guerra desencadeada pelo ataque do movimento islamita em território israelita, em 7 de outubro passado.

c/ agências
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